quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Reciclando

Ah, essa ação perversa de guardar coisas, de se apegar a tudo, como se cada memória fosse de dissolver ao menor sopro. A sensação de que aquilo que angariei é o único conteúdo e que deve ser preservado. 
Quero jogar fora! Mas não dá para jogar tudo! Não agora, não de qualquer jeito. Resolvi que vou reciclar. Olhar para angústia e outros sentimentos inquietantes, que afinal, não são tão desconhecidos e medindo-as de alto a baixo separá-los, triá-los.
Há os casos sem esperança, os preconceitos e tristezas de longa data, que permanecem comigo apenas para criar infelicidade. São os orgânicos. Para eles, não há esperança.  Devem ir embora, se misturar com a terra, virar qualquer coisa, longe de mim.
Que tal pegar o meu perfeccionismo, duro como um metal e transformá-lo em arte, de preferência em uma criação alegre?

São papel todas as dores das quais posso falar, que deixam de ser minhas e passam a ser linhas... Uma transmutação fácil e ligeira, leve como um passe de mágica, de agilidade imperceptível, mas nem por isso menos impressionante.  
E quanto ao plástico, são as dúvidas, os medos, as memórias que merecem ser remodeladas e recriadas, com novas formas, afinal elas foram as formas do ser que eu era.

Não. Não se pode jogar fora todo um mar de existência, mas é sábio reciclar seus resíduos. E assim, após algum trabalho e nenhuma violência, eu estarei bem mais leve, mais limpa, pronta para novos vôos sem excesso de bagagem.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

 De repente

Após deliciosas férias, eis-me de retorno! Uma semana no nordeste revigora qualquer morto-vivo.
Nada como acordar e após um saboroso café da manhã ir caminhar na praia. Não há dúvida de que o mar tem propriedades curativas. E não só para o corpo. A alma se sente agradecida, as preocupações são lavadas, levadas embora com as ondas. Mas, isso não é novidade. Novidade é estar permanentemente agradecia.
De repente, o óbvio. De repente, me dou conta da maravilha que é estar vivo, da oportunidade de estar aqui-agora, do número de bençãos que recebemos a cada instante.
Insatisfação rima com falta de gratidão. Por que cargas d'água ficar reclamando daquele aspecto da vida que não está exatamente como eu imaginava? Por que não olhar todo o resto? Ao invés de se angustiar pelos 2 quilos em excesso, por que não parar e reverenciar, nem que seja  por um só instante, o corpo, templo da nossa alma, por vezes tão sobrecarregado?
De repente, começo a olhar para o lado e o agradecer não tem fim. Todas as pequenas coisas, que passavam desapercebidas, tornam-se fonte de alegria. O lugar onde moro, as pessoas com quem convivo, tantos companheiros nesta viagem única, o trabalho que faço, poder ver, poder andar, poder ouvir... A lista é infinita e o coração se enche de alegria. Estava tudo aqui, há tanto tempo, mas eu só olhava o que faltava. Como é que pude estar tão cega?
E de repente, quero ter mais pessoas ao meu lado, pessoas que partilhem comigo o prazer da vida.
E aí, embora não estejamos mais na praia, você quer caminhar comigo?