quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Reciclando

Ah, essa ação perversa de guardar coisas, de se apegar a tudo, como se cada memória fosse de dissolver ao menor sopro. A sensação de que aquilo que angariei é o único conteúdo e que deve ser preservado. 
Quero jogar fora! Mas não dá para jogar tudo! Não agora, não de qualquer jeito. Resolvi que vou reciclar. Olhar para angústia e outros sentimentos inquietantes, que afinal, não são tão desconhecidos e medindo-as de alto a baixo separá-los, triá-los.
Há os casos sem esperança, os preconceitos e tristezas de longa data, que permanecem comigo apenas para criar infelicidade. São os orgânicos. Para eles, não há esperança.  Devem ir embora, se misturar com a terra, virar qualquer coisa, longe de mim.
Que tal pegar o meu perfeccionismo, duro como um metal e transformá-lo em arte, de preferência em uma criação alegre?

São papel todas as dores das quais posso falar, que deixam de ser minhas e passam a ser linhas... Uma transmutação fácil e ligeira, leve como um passe de mágica, de agilidade imperceptível, mas nem por isso menos impressionante.  
E quanto ao plástico, são as dúvidas, os medos, as memórias que merecem ser remodeladas e recriadas, com novas formas, afinal elas foram as formas do ser que eu era.

Não. Não se pode jogar fora todo um mar de existência, mas é sábio reciclar seus resíduos. E assim, após algum trabalho e nenhuma violência, eu estarei bem mais leve, mais limpa, pronta para novos vôos sem excesso de bagagem.

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