terça-feira, 31 de julho de 2012

Vontades

Vontade de pintar as paredes e colar sobre elas mandalas coloridas, de ir para a cozinha e fazer comida que nem bruxa prepara poção, misturando as ervas ao som de música indígena.
Vontade de atravessar a rua sem olhar para os lados, de mandar o mundo parar. Chega de pressa.
De caminhar descalça, de chupar pirulito. De fazer tudo o que quis e nunca fiz. Está em tempo. Conversar com passarinhos, arranhar os orgulhosos, abrir gaiolas, invadir os parques dançando, rir alucinadamente...
Vontade de tocar no contratempo, de andar na contramão, só para fazer diferente. Acordar os instintos, cutucar os vizinhos, espalhar as abelhas, espelhar os humores.
Na verdade, chega de escrever! Vou sair por aí. Já!
Se você gostou da ideia, vem comigo, pois a alegria da alma alimenta a vida!
Hoje

Quatro pessoas, três gerações, uma mesa vermelha. De lá, a visão do parque, adolescentes, crianças e cães. Faz sol. Fora e dentro de mim.
O tempo parou e fiz uma fotografia do momento. Ao meu lado, meus pais, presentes e vibrantes, capazes de avançar pela vida saltando sobre obstáculos como bons atletas e meu filho adolescente, descortinando no seu ritmo as muitas descobertas a fazer. Que privilégio estarmos aqui, juntos e risonhos, cada um com seu caminho particular, celebrando a leveza.
Hoje não há obrigações, relátorio, conta a pagar ou armário para arrumar.O tempo parou e percebi que sou feliz e pronto. Ponto. Que bom!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

LEMBRANÇAS


Lembro-me de uma pequena bolsa de couro vermelha que eu segurava orgulhosamente e de uma pequena boneca de lã que minha mãe fez para mim. Ela tinha miçangas amarelas nos pés à guisa de sapatos.
Lembro-me de um tabuleiro de xadrez de madeira que tinha uns dois centímetros de espessura. No seu interior ficavam as peças. Três delas haviam sido perdidas e foram substituídas por tampas de Cebion. Como eu não gostava realmente de jogar damas e acabei resignificando o tabuleiro que passou a ser o salão de baile de minhas bonecas. Ah, agora sim ele era perfeito.
Lembro-me de vestir a camisola de minha madrinha, de colocar seu colar na cabeça como se fosse um diadema e de me sentir a mais bela das princesas.
Lembro-me da minha avó de quem nem por um segundo duvidei do amor. Eu passava os dias com ela e a fazia desenhos que a representavam com um enorme vestido de rainha, cravejado de diamantes e de todas as pedra preciosas que eu pudesse imaginar.
Lembro-me de colecionar figurinhas, de ajudar a fazer pastel.
Lembro-me de dançar na sala de casa olhando minhas sombras projetadas na parede como um corpo de baile deslumbrante.
Lembro-me de um filme de ficção científica que me surpreendeu muito. O protagonista alterava a forma dos objetos ao pensar neles.
Que impressionante! Seria possível? Eu sempre achei que sim.
Lembro-me de um gatinho que cabia na minha mão de criança de 5 anos. Foi um encantamento sem fim. Por alguma razão desconhecida eu sempre me senti irmã dos felinos.
Lembro-me de tomar chuva, de sonhar acordada, de sofrer por antecipação e também de confiar. E de dançar, cantar, tocar e dançar, como se a vida fosse um imenso bailado.
Hoje sei que as lembranças enfeitam minha história, fazem parte da minha memória, mas não são a minha pessoa. Obviamente, o que sou vai muito além disso. Mas é agradável poder olhar para trás e ver o desenho na tapeçaria que bordei e encontrar flores no jardim. Há muito ainda para ser vivido. Que o arquivo de memórias futuras seja abundante e colorido.