quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ESCOLHAS

"Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference."

Robert Frost



Foi logo no primeiro dia que descobriu que não ia dar certo.
Há um mês acordava cedo demais, pegava o metrô lotado, chegava ao escritório com cara de anteontem e se sentia um número. Essa era a pior parte! Um número! Havia tantas iguais (como assim, iguais!!!) a ela.
Na sala comprida, mesas pequenas, sobre as quais repousavam telefone e monitor. Divisórias aumentavam a sensação de isolamento. Em minutos todos começariam a cacarejar o discurso aprendido do telemarketing! Haverá algo de mais odiável? Para fazer aquele trabalho seria preciso ser autenticamente desprovido de sonhos ou coagido a abandoná-los. Eram treinados para se tornarem robôs. Não. Não ia dar certo. Mesmo.
- Acho que nem vou mais. – declarou para si mesma em voz baixa, temendo secretamente o olhar de desaprovação e horror da mãe.  E talvez por esse mesmo motivo, resolveu sair, fingindo cumprir a rotina mecânica.
Uma vez na rua, a sensação de liberdade e transgressão correu pelo corpo. A vida era grande demais para ser passada em uma sala sem alma. A vida era preciosa demais para ser desperdiçada cumprindo o papel que não era de sua escolha. A vida era rica demais para não ser acalentada, amada e sorvida por cada poro.  Tinha que aproveitá-la à sua maneira. Sem concessões. Com riscos.
Despreocupada e confiante seguiu rumo a seus próprios sonhos.
                    



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