terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Mudanças



Sob a luz do pôr do sol as areias se tornavam douradas. Nada a fazer além de caminhar sobre elas com os pés descalços. A beleza momentânea da paisagem fazia contraste com meu estado de espírito sombrio. Por um instante, me senti uma atriz representando em um filme triste e observei a mim mesma. Por um instante, parei de me sentir mal. Por um instante, percebi que o mundo seguia adiante sem registrar minha decepção amorosa.

 Era o fim. O fim da aventura na qual eu havia mergulhado sem medida nem cuidado. Noites em claros, prazos de entrega desrespeitados, risadas altas e vestidos curtos. Oito meses de vida explícita e como sequela, vários contatos profissionais desfeitos. Rastros de uma relação intensa e insidiosa. O pessoal, o íntimo havia aberto as portas, saído do seu esconderijo e ido a todos os locais onde normalmente é proibido. Em oito meses eu havia mudado de status: de profissional respeitada à amadora irresponsável. O que anos de seriedade e compromisso tinham construído fora varrido por oito meses de comportamento irresponsável e adolescente. Problema: tenho 39 anos e contas a pagar. No momento, me desesperar apenas por amor seria um luxo ao qual não posso me entregar. Apesar da beleza romântica da praia, a realidade concreta de compromissos não cumpridos não podia ser ignorada. Talvez a maior frustração seja me ver novamente às voltas com a banalidade do cotidiano onde as emoções e a fantasia parecem não ter direito de existir. A visão do mar me acalmava, seu movimento contínuo anunciando em silencio que tudo muda, que nada é permanente e que é possível construir um outro caminho, uma outra vida. Fixei o olhar nas ondas esperando ficar impregnada pela possibilidade de resgate: entregar, confiar, aceitar. 

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